No momento em que o Brasil ultrapassa as 592.000 mortes, devido ao SARS-COV2 e volta a ter um percentual de crescimento que se encontrava em queda, novamente a pandemia se mantém em protagonismo. Considerei relevante escrever sobre esse tema pela necessidade de entendermos a importância de passarmos pelas nuances da teia emocional, vivenciada pelos que perdem alguém.
O dicionário define:
- perder: “ficar sem a posse de”; “deixar ficar (algo) em algum lugar, por esquecimento ou distração”
- morte: “interrupção definitiva da vida de um organismo”; “fim da vida humana”
- luto: “sentimento, pesar pela morte de alguém”; traje usado em sinal de pesar”; período após a morte de alguém...”
Independente da definição encontrada nos dicionários, a MORTE pode ser uma passagem, o fechamento de um ciclo, uma etapa da vida -nascer, viver e morrer - cada um vai definir a morte dentro da sua visão de vida. Pensando em processos terapêuticos, nosso ciclo de vida poderia ser: nascer, viver, morrer e “renascer a cada encontro consigo mesmo” e é esta ressignificação que nos leva à reflexão do processo de luto que envolve a MORTE com todas as PERDAS que podemos ter ou sentir. E a forma de se relacionar com esta morte, dependerá da maneira como encaramos nossas dores. A dor precisa ser redirecionada, sair do objeto ou da pessoa que perdemos, em direção contrária ao sofrimento e guiada em direção a nós mesmos. Ao transformar essa dor em força que a princípio nem imaginamos ter, mas que está dentro de nós aguardando um aceno, exige que sejamos atentos aos nossos sentimentos e emoções. Não é fácil fazer esse caminho sozinho porque nem todos tem a clareza de não confundir a necessidade de buscar ajuda com fraqueza.
A fraqueza não está atrelada a pedir ajuda, mas a resistir por receber ajuda. Uma imagem distorcida do que é ser forte pode levar a esse equívoco do medo de demonstrar fraqueza. É comum que as pessoas se cobrem e sintam vergonha, quando na verdade o ato de pedir ajuda é corajoso. Conhecer seus limites, entende-los e assumir suas fraquezas é corajoso e é um ato de empoderamento da sua autoconsciência. Permitir dizer: “eu não posso” é vencer a primeira batalha interna. Muitas vezes confundimos “eu não posso” com “eu não sou capaz”. Penetrar nessa teia, no âmago de nosso ser, transpor os medos e enfrentar nossas dores conscientes dos desafios que esse sofrimento envolverá, é a grande conquista num processo terapêutico. Será um percurso difícil? Sim! Difícil e por vezes mais doloroso que imaginamos. Contudo, são nas dificuldades e nos diferentes revezes que crescemos. Quando estamos imaturos para entender e reconhecer nossas emoções nós resistimos, e provocamos conflitos internos que geram equívocos, numa fuga de si mesmo para a zona de conforto mais próxima. Os pensamentos automáticos ou distorcidos invadem nossa mente como um turbilhão e se não soubermos freá-los eles nos levam para lugares distantes do que realmente somos capazes de alcançar, gerando reações emocionais dolorosas e um comportamento disfuncional.
Metaforicamente podemos afirmar que o processo psicoterapêutico no luto é a fechadura de um cofre, cuja engrenagem para sua abertura é complexa, cheia de detalhes e com mecanismos que o tempo aliado aos fatores externos, o enferrujaram. No entanto, fazendo uso das ferramentas adequadas é possível cuidar dessa engrenagem para que ela volte a sua função de guardar, proteger ou abrir quando necessário sem as dificuldades impostas pelo tempo. (Patrícia Costa)
Patrícia Costa
CRP: 05/15.718
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